terça-feira, 16 de abril de 2024

ZHUANGZI ch. 5 - Trad. Jean Lévi

 


O Tao deu-lhe a sua aparência e o céu a sua forma, porque deixaria que as paixões prejudiquem o seu corpo?

Você se deixa distrair pelo mundo exterior e esgota seus espíritos vitais; você prega do alto da tua poltrona para depois adormecer exausto nos braços dela, esse corpo que o céu lhe ofereceu você usa em seus vãos argumentos.

 

道與之貌天與之形無以好惡內傷其⾝。今⼦外乎⼦之神,勞乎⼦之精,倚樹⽽吟,據槁 梧⽽瞑。天選⼦之形,⼦以堅⽩鳴!





segunda-feira, 1 de abril de 2024

XICI

 

Quando o frio passa, o calor chega e quando o calor passa o frio chega; frio e calor se empurram um ao outro e o ano se completa.


Passar é dobrar-se sobre si, chegar é desdobrar. Ao dobrar-se e se desdobrar se excitam um ao outro, e o benefício provém disso. O dobrar da lagarta-mariposa permite-a se desdobrar. Dragões e serpentes hibernam (se escondem) para conservar sua vida. O sentido sutil (jing yi 精義) penetra isso que é da alçada do espírito (shen ) para chegar ao uso (yong  ).

O benefício e o uso (li yong 利⽤) trazem tranquilidade (an ) à pessoa para exaltar a virtude (potência vital, de ). Ultrapassar isto para proceder é algo ainda desconhecido. Escrutar a fundo o que emerge dos espíritos (qiong shen 窮神) e conhecer as transformações (zhi hua 知化), é a plenitude da Virtude.



寒往則暑來暑往則寒來寒暑相推⽽歲成焉。往者屈也,來者信也 ,屈信相感⽽利⽣ 焉。尺蠖之屈,以求信也,⿓蛇之蟄,以存卉也。精義⼊神,以致⽤也,利⽤安⾝,以崇德 也,過此以往,未之或知也,窮神知化,德之盛也。

quinta-feira, 14 de março de 2024

MENCIUS II;V, I- 4


MENCIUS II A - Trad. André Lévy

A vontade (zhi  ) comanda os sopros (qi zhi shi  氣之師) que preenchem nosso corpo (ti zhi  chong 體之充)). Lá onde vai a vontade, o sopro segue. É por isso que se diz: “Manter a vontade e não violentar seu sopro”.

-Uma vez que você afirmou que o sopro segue lá onde vai a vontade, o que significa “manter a vontade sem violentar seu sopro”?

-Unificada (yi ) a vontade anima o sopro (dong qi  動氣), o qual, unificado, “anima também a vontade (dong zhi  動志). Ora, quer caiamos ou corramos, é por um efeito do sopro que reage sobre o espírito (xin ).

MENCIUS V, I, 4 - Trad. Couvreur

Aquele que cita os versos não deve se apegar a uma palavra (wen ) em detrimento de uma frase (ci  ), sem se apegar a uma frase em detrimento do sentido geral (yi ). Busque o sentido verdadeiro (zhi ) pela reflexão e o encontrará.



Texto em francês e caracteres correspondentes: Élisabeth Rochat de la Vallée. Tradução para o português Mariana Scarpa e Zé Motta.

quarta-feira, 6 de março de 2024

SUWEN 10


O Coração se reúne (he 合) com as circulações vitais (mai 脈), seu esplendor (rong 榮) está na tez (se色), seu domínio (zhu 主) é feito pelos Rins.

O Pulmão se reúne com a pele (pi 皮), seu esplendor está nos pelos (mao 毛), seu domínio é feito pelo Coração.

O Fígado se reúne com os movimentos musculares (jin 筋), seu esplendor está nas unhas (zhao 爪); seu domínio é feito pelo Pulmão.

O Baço se reúne com as carnes (rou 肉); seu esplendor está nos lábios (chun 脣); seu domínio é feito pelo Fígado.

Os Rins se reúnem (he 合) com os ossos (gu 骨); seu esplendor está nos cabelos (fa 髮); seu domínio é feito pelo Baço.

心之合脈也,其榮色也,其主腎也。肺之合皮也,其榮毛也,其主心也。肝之合筋也,其榮爪也

,其主肺也。脾之合肉也,其榮脣也,其主肝也。腎之合骨也,其榮髮也,其主脾也。


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Suwen 62

O casal Osso e Medula, é responsável pelas transformações mais internas, permitindo a conclusão da forma corporal:

“O Coração entesoura os Espíritos, o Pulmão entesoura os Sopros, o Fígado entesoura o Sangue, o Baço entesoura as carnes, os Rins entesouram a Vontade. E tudo que forma um corpo completo (cheng xing 成形). Quando a Vontade e Intensão  (zhi yi 志意) se comunicam livremente (tong ) e que internamente se unem aos Ossos e Medulas. Então a passoa esta completamente constituída, com sua forme e seus Cinco Zang[1]”



[1] 夫心藏神肺藏氣肝藏血脾藏肉腎藏志而此成形志意通內連骨髓而成身形五藏五藏之道。

Fū xīn cáng shén, fèi cáng qì, gān cáng xuè, pí cáng ròu, shèn cáng zhì, ér cǐ chéngxíng, zhì yì tōng nèi lián gǔsuǐ, ér chéng shēn xíng wǔ cáng, wǔ zàng zhī dào.


quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

AS ORIGENS DO QI


Vento

Para entender a origem do qi, precisamos primeiro olhar para o conceito de vento. Um caractere específico para qi não aparece nas primeiras inscrições oraculares e de bronze, nem na maioria dos textos chineses antigos, como O Livro dos Documentos, Shujing (書經), ou O Livro das Odes, Shijing (詩經). O que realmente encontramos em inscrições oraculares muito antigas dos séculos XIV, XIII, XII a.C. é o caractere para vento, e essas primeiras descrições de vento têm algumas qualidades que serão posteriormente atribuídas ao qi.

Existem diversos tipos de vento, por exemplo os Quatro ventos e os Oito ventos, e cada um deles contribui para o conceito de qi em expansão. No início, qi aparece como algo que vem do Céu e penetra a Terra. Ele exerce uma influência sobre a Terra e provoca uma reação, por exemplo, o qi que gera frio e calor, dia e noite, vento e chuva.

Yin e Yang

Posteriormente, qi será entendido como aquilo que está por trás de yin yang (陰陽) e essa é uma mudança muito importante. Não podemos falar de qi sem falar de yin yang, e não podemos falar de yin yang sem falar de qi. Por exemplo, yin e yang aparecem nos primeiros textos como Dois dos Seis qi do Céu. Eles são como frio e calor. Isso quer dizer que não são apenas o lado sombreado e iluminado ou ensolarado de uma montanha; são mais que isso, eles são o frio e o calor, o resultado de estar na luz ou na sombra. Yin e yang se tornarão um tipo de diferenciação de qi, assim como qi se tornará a influência por trás de qualquer tipo de manifestação. Yin qi se tornará o princípio por trás do frio e do resfriamento, e yang qi se tornará o princípio por trás do calor e do aquecimento.

Podemos observar essas diferenças evoluindo, e esse desenvolvimento será relacionado com as mudanças do clima e a passagem do tempo, que é visto como um

movimento de qi e yin yang, por meio do resfriamento do verão para o inverno e do aquecimento do inverno para o verão. Então, aqui o qi está sendo usado para codificar o movimento do tempo, e esse movimento não é visto apenas nas Quatro estações, mas também na progressão de cada dia. Muitos dos textos descrevem tudo isso.

Qi interior

À medida que a compreensão do qi evolui para aquilo que está por trás da aparência das coisas, há o desenvolvimento daquilo que podemos chamar de analogia. Por exemplo, o mesmo tipo de qi que gera vento e tempestades na natureza é também visto como gerador de raiva. Assim, nos primeiros textos, há uma relação entre os Seis qi do Céu e as Seis qualidades de qi dentro de um ser humano. Esses textos mostram o desenvolvimento do qi não apenas no exterior, na natureza, mas também no âmago do ser humano. Um exemplo disso está em Zhuangzi, onde qi é visto não apenas como o que se encontra por trás de qualquer fenômeno, mas também como a correspondência entre diferentes fenômenos que apresentam características similares. Por exemplo, o que há por trás da raiva e do vento pode também estar por trás de todos os tipos de impulsos violentos que iniciam algo; um movimento de ascensão, como o nascer do sol ou a primavera.

Por esse processo de correspondências, há a possibilidade de se desenvolver uma cosmologia baseada no QI, Yin Yang e nos Cinco elementos. O conceito de Cinco elementos ou agentes (wu xing 五 行) desenvolveu-se por volta do século III a.C. Não era possível desenvolver uma cosmologia de correspondências antes de haver uma noção substancial de QI para fazer essas correspondências, o que ocorreu por volta dos séculos IV e III a.C.

Qi e a origem da vida

No fim dos séculos III e II a.C., qi estava ligado à origem e produção da vida. Isso é muito evidente, mas a mudança veio com a compreensão de que qi não é apenas a força de transformação que gera vida, mas também pode ser considerado como a própria origem da vida. Isso nos leva a perguntar que tipo de relação existe entre qi e seres vivos, entre qi e forma. Por “forma” queremos dizer tudo que tem uma qualidade específica e perfeita; forma requer substância e essências. O início da forma ocorre pela concentração de yin e condensação de qi, o que permite o aparecimento da substância; quando o qi se torna yin e yang está sujeito aos movimentos e transformações que geram oposição. No interior dessa dualidade entre essências e qi, forma e qi, o qi será tratado como específico, com qualidades específicas, e não mais na totalidade. Assim, pode ser mudado, alterado e até pervertido, especialmente pela força da natureza humana.

Então, qual a relação entre qi e os espíritos? O qi, em si mesmo, não é uma substância nem um espírito. O que podemos dizer é que o qi se manifesta por meio dos fenômenos, e é inseparável dessas manifestações, às quais confere especificidade e movimento. Por outro lado, não podemos dizer que qi é a mesma coisa que tais fenômenos ou seres.

Quando as coisas deixam de ser, o qi não desaparece, mas, sem forma, já não pode ser percebido. Então, poderíamos dizer que ele é um tipo de potencialidade infinita e indefinida, mas “potencialidade” soa como uma abstração, o que não é o caso do qi. Ele é uma realidade. Assim, finalmente, chegamos à compreensão de que tudo é qi, e qi é tudo que existe; portanto, Céu e Terra e tudo que está entre eles, tudo que pode envolvê-los e todos os seres e fenômenos que existem entre eles, são apenas manifestações específicas de qi,

as quais existem por um tempo. Tratando-se de uma emoção, existe por um dia. Se for uma montanha, existe por mais tempo. Por fim, constatamos que tudo é qi, a tal ponto que as próprias essências são apenas uma concentração de qi.

Os chineses também têm uma paixão por unidade, e por meio de sua visão de qi, encontraram a unidade de todas as coisas. De acordo com essa visão, meu qi não é exatamente meu, é meu porque é minha vida naquele momento. O mesmo vale para os meus espíritos. Meus espíritos não são especialmente meus, são meus porque estão efetivos na minha vida no momento. Se minha vida terminar, os espíritos e o qi não desaparecerão, mas serão outra coisa ou estarão em outro lugar. Eles continuarão a participar do infinito e ilimitado movimento da vida. Essa não é uma descrição adequada para falar do que está por trás da aparência dos seres vivos por causa dos limites da linguagem; mas o qi está nesse nível, ele está no nível da origem de toda manifestação de vida. Assim, a cor, o som e o odor de um ser específico são todos uma questão de qi.

Ao mesmo tempo, também temos a ideia de qi como o lado yang de toda relação yin yang, como sangue e qi, essências e qi, forma corporal e qi. Então, a questão é se os qi são capazes de ser a ordem natural da vida por si mesmos ou precisaríamos acrescentar algo. Esse “algo acrescentado” tem sido chamado de diferentes nomes de acordo com a era ou a escola de pensamento: o Dao, o Li, os princípios da escola confuciana, ou o shen (神). Existem diversas abordagens nos textos tardios, mas a impressão geral é de que o qi é “guiado” pelo Céu de alguma maneira, mas temos de ser cuidadosos aqui, porque ainda que o qi esteja relacionado com algo que o guie, não há dualidade. A realidade última é sempre a fusão dos opostos em uma unidade. Isso tem de estar muito claro, porque é um erro frequente no Ocidente.

A cosmologia que encontramos na medicina chinesa e no Taoismo se baseia em qi, ying yang e wu xing (os Cinco elementos/agentes). Uma compreensão profunda da noção de qi é necessária para que essa cosmologia possa existir e operar com todas as suas correspondências. Se qi fosse somente o frio ou o calor, por exemplo, não se poderia ter uma base para essa cosmologia complexa. Evidentemente, o conceito de qi, em toda a sua diversidade e riqueza, não habitava o pensamento chinês antes do século III a.C.; não havia traços disso na época, consequentemente, nenhuma possibilidade de tais conexões serem feitas de modo a estabelecer uma cosmologia.

Se abrirmos um bom dicionário de chinês e procurarmos por qi, provavelmente vamos encontrar vários significados que expressam suas diferentes utilizações ao longo da história. Por exemplo, pode tratar-se de um estado de totalidade indiferenciada na qual tudo é qi. Pode ser o princípio que engendra a vida, o qi original, ou os componentes dos agentes constituintes de tudo aquilo que existe. Pode-se, também, encontrar a ideia de força e atividade da vida em cada organismo ou fenômeno; o ímpeto por trás do movimento, a energia, as forças animadoras do universo. Qi também é usado para coisas mais observáveis, como o sopro, a exalação, o gás ou o vapor. Encontramos todos esses significados nesse caractere.

O qi gera movimento, mudança e transformação nas diversas expressões da vida, e permite que se manifestem qualidades e aspectos específicos. Por exemplo, na natureza é o ar, mas é também o estado da natureza em si, o clima e a atmosfera. É cada uma das Quatro estações e cada um dos 24 períodos de 15 dias que formam o ano solar. Os 24 períodos do ano são chamados jie qi(節 氣). Qi também é usado para expressar qualquer quantidade de tempo.

No organismo, qi pode ser empregado para designar a respiração, a exalação ou qualquer tipo de expressão. Pode também descrever cor e aparência. É a maneira, a atitude, o comportamento e a expressão do contentor. Por exemplo, a expressão que tenho no rosto

é o resultado do qi. Tanto minha conduta quanto minha linguagem corporal, são manifestações de qi, tal como meu humor, meu temperamento e minhas emoções. O “qi do baço” (pi qi 脾 氣) é uma expressão popular em chinês para traduzir o humor do dia; e estar de mau humor é ter um mau qi do baço. É claro que qi também é usado para a manifestação yang da raiva, gerar qi significa estar com raiva, mas também é utilizado para um estado de espírito, e o movimento ou a disposição natural do coração. Do mesmo modo, é utilizado para tratar das forças vitais, não só do corpo – força da constituição –, mas também para a força da mente. Assim, a inteligência, a força de vontade de cada ser, também é qi. A qualidade de animação ou a presença dos espíritos é graças ao qi, e isso é usado para se referir a tudo aquilo que pode ser expresso. Ao analisarmos a caligrafia, poderíamos afirmar que o qi está presente nos caracteres. Isso é algo que podemos sentir. A ideia do qi está por trás de todos os tipos de manifestação, ao mesmo tempo, trata-se da força que engendra a vida.

Essa compreensão de qi e nossa habilidade para percebê-lo estão por trás de vários métodos de diagnóstico usados na medicina chinesa, sendo o movimento e a qualidade do qi, uma expressão do que subjaz.



Trecho do livro "Tudo é Qi ", de Elisabeth Rochat de la Vallée , editado em 2022 pela Editora Inserir.

ZHUANGZI ch. 5 - Trad. Jean Lévi

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